Em Icó, Ceará, motociclistas e motos rodam sem documentação e equipamentos de segurança obrigatórios.

Na cidade de Icó, região centro-sul do Ceará, a 350 km de Fortaleza, o trânsito roda como o povo quer e não como manda a lei. Para quem chega à cidade o primeiro choque que se tem é ver todo mundo pilotando ou sentado na garupa de motos sem capacete.  Se você prestar um pouco mais de atenção vai perceber que a maioria das motos não possuem retrovisores.

E o mais grave: a grande quantidade de motos rodando com mais de duas pessoas, inclusive crianças que são colocadas sentadas ou deitadas em cima do tanque de combustível. Tudo isso sob os olhares impotentes da Guarda-Municipal e Polícia Rodoviária Estadual que nada podem fazem por que os políticos não querem ‘desagradar o público eleitor’.

Em Icó o trânsito representa o grande temor do Detran quando ocorreu a municipalização do trânsito. Segundo o agente municipal de trânsito que chamaremos de ‘José’ para não identificá-lo, “aqui não se usa capacete, retrovisor, não se emplaca, não se tem carteira, menores dirigem e não podemos fazer nada, pois nem viatura nós temos.”

Pior que isso foram as tentativas para resolver o problema. Dois promotores que passaram pela cidade tentaram disciplinar o trânsito, mas sem sucesso. Para piorar ainda mais a situação, uma blitz realizada pela Polícia Rodoviária Estadual, ainda este ano, acabou repentinamente depois que a multidão cercou os policiais e as viaturas e começaram a jogar ovos. Para evitar um confronto com a população a blitz foi encerrada e a polícia se retirou.

Recentemente vereadores e prefeito estiveram reunidos em audiência pública por mais de 3 horas para chegar a conclusão de que “é necessário fiscalizar e punir com multas e apreensão”.  Mas a conclusão que eles chegaram nada mais é do que a que está determinada no Código Brasileiro de Trânsito.

A grande maioria dos motociclistas em Icó não possui carteira e as motos estão com emplacamentos atrasados e como não há fiscalização as estatísticas não são confiáveis. Estima-se que cerca de 90% das motos estejam irregulares e cerca de 80% dos motociclistas não possuam habilitação.

Ainda podemos acrescentar o problema de possíveis motos roubadas rodando sem que seus proprietários sejam incomodados. O mesmo vale para carros. Ainda segundo o Guarda-Municipal ‘José’ (nome fictício para preservar a fonte) “existem muitos carros e motos aqui que foram compradas vindas financiadas de outros lugares, não foram pagas e aqui rodam sem serem incomodadas. Além disso, há problemas com motos de procedência duvidosa algumas que podem até serem roubadas e que aqui rodam tranquilamente”.

Trânsito irregular, apesar de municipalizado.

Nada se pode fazer, pois mesmo com o trânsito de Icó municipalizado, os políticos não querem brigar com o povo. Acontece que, a conta dessa aparente paz política custa muito caro, pois custam vidas e uma legião de aleijados que se formarão a partir dos inúmeros acidentes que ocorrem na cidade. Para se ter uma idéia da dimensão do problema as colisões entre motos e de motos com postes e calçadas é quatro vezes maior do que os números obtidos em Iguatu, que fica a 60 km de Icó e possui o trânsito municipalizado.

No meio dessa onda de desrespeito a lei e descaso público, os mototaxistas de Icó dão um exemplo contrário. Eles andam com capacete e colete, com sapatos e calças compridas, protetores de braço contra o sol e são habilitados, sindicalizados e as motos regularizadas. E isso se deve ao sindicato da categoria pois, se depender do poder público da cidade estaria tudo como está agora.

O problema em Icó é grave e ultrapassa a esfera apenas do trânsito para enveredar pelo crime. Cenários como esses são perfeitos para que possam receber motos roubadas e motos inadimplentes com mandatos de busca e apreensão. Mas nada se faz, por que não se quer fazer. Os acidentados são transferidos para Iguatu ou Fortaleza e a conta do descaso no trânsito de Icó é transferida para o Estado ou para outro município que fez o seu dever de casa, caso de Iguatu.

Enquanto nada acontece as pessoas vão continuar andando de moto sem capacetes, sem documentação, sem habilitação, sem retrovisores, sem emplacamento. E as motos continuarão levando crianças no tanque; menores continuarão pilotando motos e cada vez mais pessoas irão morrer ou engrossar a fileira de aleijados, pois o poder público nada faz.

O problema de Icó não se resolverá antes de dois anos. Vale lembrar que 2012 será ano de eleições municipais e qualquer medida punitiva pode custar uma eleição. Então, nada será feito até meados de 2013. Até lá, salve-se quem puder!

 

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Redação Geral

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