Ciberbullyng: Não alimente os Trolls!!!

Trolls

Quando publiquei a coluna sobre Sarcasmo e superficialidade nos relacionamentos virtuais alguns leitores sugeriram textos muito interessantes para que pudéssemos ampliar o conhecimento sobre o tema.

Dois temas me chamaram especialmente a atenção: Ciberbullying e os Trolls . O material é vasto e inconcluso por ser recente, mas as informações iniciais apontam para um problema ainda mais profundo e, por que não dizer, interessante sob o ponto de vista do relacionamento humano. Uma coisa eu aprendi ao ler todo este material: “Não alimente os trolls”. Eu o convido, para, a partir deste ponto, mergulhar neste misterioso, sarcástico, polêmico e desconhecido mundo dos trolls. Vamos a ele.

Depois de três anos escrevendo sobre novas empresas e serviços de tecnologia, uma ameaça de morte e uma cuspida na cara, Michael Arrington, co-fundador do Techcrunch, decidiu ficar fora do terceiro blog mais lido do mundo.No início de fevereiro, o autor de novelas Aguinaldo Silva fez um desabafo nesse mesmo tom em seu blog. “As agressões são as mais deslavadas, e o que é pior: de pessoas que nem sequer existem! Suas identidades são todas falsas.”

Rosana Hermann, passou por uma situação parecida com a do co-fundador do Techcrunch. Dona do ‘Querido Leitor’, ela já chegou a fechar um blog e sair do país com a família, depois de receber uma ameaça no estilo “sei onde seus filhos estudam”.O jornalista Vitor Birner, diz ser diariamente agredido nos comentários postados no Blog do Birner, uma página para fãs de futebol. “Há várias formas de agressão.”

Já a estratégia de Renê Fraga, é tentar entender os leitores do Google Discovery, mesmo aqueles mais agressivos. Ele diz sempre tentar oferecer um espaço para que o usuário da página expresse suas idéias.O ‘Te Dou Um Dado’, com informações sobre o universo das celebridades, segue um caminho contrário. A página criada por três blogueiros em abril de 2007 era aberta para comentários, mas com o tempo eles foram fechados. “Como a voz do povo definitivamente não é a voz de Deus, acabamos com essa história”, diz Ana Paula Barbi, a Polly, uma das criadoras do site.

Acreditando nas falsas ofensas que lhe eram feitas continuamente através do site de comunicação My Space, a adolescente americana Megan Meier, de 13 anos, matou-se. Mais tarde descobriu-se tratar de uma vingança pessoal de Lori Drew e sua filha ex-amiga de Megan.

Em uma tarde da primavera de 2006, por motivos desconhecidos dos amigos, Mitchell Henderson, um garoto da sétima série de Rochester, no Estado de Minnessota, pegou um rifle calibre 22 da prateleira no armário do quarto dos pais e estourou a própria cabeça. Os Trolls acharam especialmente divertido uma referência em sua página do MySpace a um iPod perdido. Mitchell Henderson, como o /b/ (um site de trolls) definiu, se matara por conta de um iPod perdido. O título de “um herói” nascera fez com que, em algumas horas, multidões anônimas relacionassem a morte de Mitchell às coisas mais absurdas. Dias depois o telefone começou a tocar na casa dos pais de Henderson. “Pareciam crianças”, lembra o pai de Mitchell, Mark Henderson, executivo de tecnologia da informação de 44 anos. “Eles diziam, ‘Oi, aqui é o Mitchell, estou no cemitério. ’ ‘Oi, estou com o iPod de Mitchell. ’ ‘Oi, é o fantasma de Mitchell, a porta da frente está trancada. Você pode vir aqui e me deixar entrar?”’ Ele suspirou. “Afetou muito a minha mulher.” As ligações continuaram por um ano e meio até que pararam devido ao casal não dar ouvidos a elas.

Duas estudantes de direito de Yale processaram o usuário de um pseudônimo que postou fantasias violentas com elas no AutoAdmit, um fórum de contratações da faculdade. Na China, nacionalistas anônimos estão postando ameaças de morte contra ativistas pró-Tibete junto com seus nomes e endereços.

No outono de 2006, Jason Fortuny postou no Craiglist passando-se por uma mulher que procurava “homem musculoso e brutal.” Mais de cem homens responderam. Fortuny postou seus nomes, fotos, e-mail e números de telefone em seu blog e batizou a lista de “O Experimento da Craiglist.” Por conta disto Fortuny tornou-se o mais popular vilão da internet nos Estados Unidos até que em novembro de 2007, sua fama foi ofuscada pelo suicídio no MySpace de Megan Meier. O Experimento da Craiglist de Fortuny transformou-se numa bomba. Dois listados perderam o emprego, e um a namorada. Outro entrou com processo de invasão de privacidade contra Fortuny em um tribunal de Illinois. Ameaçado de morte, Fortuny apagou o endereço e o número do telefone real dos listados na internet.

Um ataque contra o site da Epilepsy Foundation realizado pelos Trolls inundou os fóruns do site com imagens piscando e links para campos coloridos animados, levando um usuário fotossensível a alegar que teve um ataque de epilepsia.Estes casos relatados nos arremetem para um fenômeno comportamental que ocorre há alguns anos na internet: O Ciberbullying ou Bullying.

Bullying é como se caracterizam todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e recorrentes praticadas sem uma motivação evidente, por crianças e adolescentes. Esse tipo de comportamento causa nas pessoas-alvo humilhação, dor e angústia.

O Bullying é um problema que afeta estudantes, pais e professores no mundo inteiro, segundo a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente) ele não está restrito a nenhum tipo de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana, mas com a Internet, o Bullying ganha espaço também nas comunidades virtuais aumentando ainda mais o transtorno das vítimas, já que no ambiente virtual os autores da agressão podem manter suas identidades no anonimato. A prática do Bullying é mais comum entre os meninos. Entre as meninas, o problema ocorre com menor frequência, sendo mais comum as ações de exclusão e difamação.

Como não existe uma tradução na língua portuguesa capaz de expressar as várias situações de Bullying, algumas ações traduzem esse termo tais como agredir; amedrontar; assediar; aterrorizar; bater; chutar; colocar apelidos; discriminar; divulgar apelidos; dominar; empurrar; encarnar; excluir do grupo; fazer sofrer; ferir; gozar; humilhar; ignorar; isolar; intimidar; ofender; perseguir; sacanear; roubar; quebrar pertences; zoar, e por ai vai.

Mas o agente de todo este procedimento são os trolls que na gíria da internet (Wikipédia), “designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas. O termo surgiu na Usenet, derivado da expressão trolling for suckers (lançando a isca para as trouxas), identificado e atribuído ao causador das sistemáticas flamewars.” O comportamento do troll pode ser encarado como a ruptura da etiqueta das sociedades civilizadas. Diante das provocações insistentes, as vítimas podem ou não perder a conduta civilizada e partir para as agressões pessoais.

Há várias sistemáticas desenvolvidas por trolls para atuar num fórum de Internet, entre elas: Jogar a isca e sair correndo, induzir a baixar o nível, repetência de falácias, desfile intelectual (contradizer os argumentos dos rivais por conhecimento e pesquisa).

No final dos anos 1980, usuários de internet adotaram a palavra “troll” para denotar alguém que intencionalmente perturba comunidades on line. A prática dos trolls no começo era ingênua, acontecendo dentro de grupos pequenos e tinham apenas um tópico. Os trolls empregavam a tática do bobo, fazendo perguntas idiotas e vendo quem morderia a isca.

“Lulz” é como os trolls marcam os pontos. Uma distorção de “LOL” ou “laugh out loud” (rir sonoramente), “lulz” significa a alegria de perturbar o equilíbrio emocional de alguém. “Lulz é ver alguém perder a cabeça ao computador a duas mil milhas de distância enquanto você conversa com os amigos e ri,” diz um ex-troll.

Mais tarde pesquisas mostrariam que 42% dos jovens americanos sofreram Bullying na internet. Vários estados americanos estão discutindo uma legislação que considere crime o Bullying na Internet. Uma cidade do Missouri já aprovou lei que o considera crimeatravés de todos os meios de comunicação eletrônica, não só a Internet, mas também as mensagens e os textos através dos telefones celulares, inclusive. O educador americano, Dr. Willian Pollack, autor do livro “Real Boys Voices”, também trata do assunto. Segundo o artigo, 160 mil estudantes nos Estados Unidos perdem em média um dia de escola por causa do Bullying. Não há estatísticas do impacto do fenômeno no Brasil. As autoridades americanas estão punindo tais crimes e os trolls estão sendo processados e podem ser presos. Os juízes entendem que o Bullying comandado pelos trolls ultrapassou todos os limites e se não houver um freio e punição descambará para outros caminhos com conseqüências ainda piores.

Não alimentar trolls é a primeira delas. Logo que são identificados devem ser ignorados. Os trolls agem solitariamente (como Jason Fortuny), em pequenos grupos e até em multidões (tipo arrastão de trolls). Os efeitos são devastadores, pois a maioria das pessoas não está preparada para lidar com isso. Isto sem falar nas pessoas que possuem problemas de autoestima, depressão ou epilepsia as quais são as presas preferidas dos trolls para praticarem o Ciberbullying.

Apesar de ser novo o Ciberbullying não está livre de punições severas. Mesmo não conseguindo encontrar leis que justificassem um processo judicial contra Lori Drew no caso do suicídio de Megan Méier, no Estado do Missouri; autoridades de Los Angeles, na Califórnia, onde o MySpace está baseado, decidiram processá-la por crimes normalmente cometidos por hackers. Mesmo sendo inocentada das acusações mais graves, como a de ter a intenção de causar stress emocional, ela foi considerada culpada de três acusações sobre uso indevido de computadores. Lori Drew, agora, pode ser sentenciada à até três anos de prisão. Este enquadramento abre um precedente importante para criar uma jurisprudência e em seguida uma lei específica para contra as ações dos trolls.

Em entrevista concedida a Mattathias Schwartz, da revista Good e do The New York Times, Jason Fortune se define como alguém “normal que pratica coisas insanas na internet”. Segundo ele mesmo destacou na entrevista “Não vou me sentar aqui e dizer, ‘Oh, Deus, por favor, me perdoe! ’ para que alguém se sinta melhor,” disse Fortuny. E continua: “Eu sou o malvado? Eu sou a pessoa horrível que destruiu a vida de alguém com alguma informação? Não! Isso é a vida. Bem-vindo à vida. Todo mundo passa por isso. Eu também passei por coisas horríveis.”

Mattathias conversou com sua mãe e descobriu que Jason Fortuny quando tinha cinco anos, foi molestado pelo avô e por outros três parentes. Eles nunca mais se falaram, mas na última vez que o fizeram Jason enviou uma carta à sua mãe dizendo que se matasse. “Jason é um jovem com uma grande dose de dor emocional,” ela disse, chorando enquanto falava com Mattathias. “Não seja tão duro. Ele ainda é meu filho.” Se isso é normal ou não, não cabe a mim dizê-lo.

Jason decidiu que era o momento de retomar seu posto de vilão da internet e realizou outra experiência. Criou o blog (fake) Megan Had It Coming e chamava Megan de “rainha do drama.” No terceiro post o autor se revelou como Lori Drew. Esse post recebeu mais de 3.600 comentários. A intenção dele era “questionar a fome do público por remorso e desafiar o cumprimento das leis contra assédio pela rede como a que foi aprovada pela cidade de Megan depois de sua morte.” Com esta ação, Fortuny concluiu que elas de nada valiam.

Fortuny não está preocupado em aparecer no mundo real. “Eles vão me processar por quê?” ele perguntou. “Enganar pessoas confusas? Por que as pessoas não verificam de quem essas coisas estão vindo? Por que presumem que é verdade?”

Jason dá a receita para livrar-se dos trolls. Não os alimente! Lendo sobre Jason tive a sensação de que o texto escrito para o personagem Coringa do filme ‘Batman, O Cavaleiro das Trevas’ poderia ter sido inspirado nele. Na realidade, Jason, expõe de forma crua e dolorosa um lado da internet e do comportamento humano que nem todos conhecem. Há várias formas de se fazer isso, mas Jason escolheu o caminho mais duro. Mesmo assim ele não tem medo. “Qualquer um que saiba quem você é e onde está deixa-o vulnerável,”. “Possuo uma arma. Tenho uma rota de fuga. Se alguém vier, estou pronto.” Finaliza Jason.

A internet ajuda a expor as emoções de forma que sejam criadas novas identidades protegidas pelo anonimato, tipo: “o que você faria se ninguém estivesse vendo ou se não pudesse ser identificado?”. Os trolls aproveitam-se disso para brincar com as emoções dos outros, especialmente daqueles que, na rede, não conseguem separar o que é verdade e o que é Bullying.

Ainda há muita água para rolar por baixo desta ponte. Mas uma coisa já podemos afirmar: ao ver um troll rondando seu blog, fórum ou site não o alimente. Se você não estiver preparado pode ser fatal.

Assista a entrevista dos pais de Megan Meier a CNN (em inglês): CNN Entrevista Pais Megan Méier

Fontes: The New York Times/G1/Wikipédia/Observatório da Infância/Google/ABRAPIA-Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente/SaferNet/MySpace/ABC News/MIT/4chan.org/MyDeathSpace/Jason Fortuny/wired.com/BBC/CNN.

Fotos: ABC News/ The New York Times/Álbum da família de Megan/reprodução.

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Redação Geral

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