DIA DO MOTOCICLISTA – A TOMOGRAFIA DE UMA EMOÇÃO!

DIA DO MOTOCICLISTA – A TOMOGRAFIA DE UMA EMOÇÃO!
O pequeno Miguel!

Certa vez li um ditado que dizia que só um “motociclista sabe por que um cachorro, assim que entra em um carro, imediatamente coloca a cara na janela”. Foi de arrepiar! Caro leitor, quero ‘jogar’ algumas informações que a tomografia das emoções pede que, antes, sejam discorridas:

“Se você não sabia, sentado na sua moto, pilotando, você controla todas as forças que fazem com que os planetas girem em torno do Sol e também as forças que fazem a Terra rodar sobre seu eixo”.

Numa moto você domina todas as leis da física. Mais de duzentos milhões de pessoas andam de motocicleta no mundo. Cerca de 97% fora dos Estados Unidos e naquele mercado faturam mais de 30 bilhões de dólares por ano. A motocicleta é responsável por um século de inovação mecânica e por que não dizer: tecnológica. Chegam a velocidades de 569 km/h e saltam até 90 metros. Uma aula de física. Velocidade, aceleração e torque. Se você não sabia, sentado na sua moto, pilotando, você controla todas as forças que fazem com que os planetas girem em torno do Sol e também as forças que fazem a Terra rodar sobre seu eixo. Motos turbinadas conseguem ir, em 7 segundos, de zero a 380 km/h e vencem, neste tempo, uma distância superior a quatro campos de futebol. Tamanha aceleração geram 8G´s de força (oito vezes a força da gravidade) bem mais que os astronautas sentem quando de um lançamento espacial. Para chegarem a esta velocidade consomem um litro de combustível por segundo, além de combustível de foguete-o óxido nitroso ou gás hilariante. O mais interessante é que você deve estar achando que quanto mais velocidade, maiores são os problemas. Na física das motocicletas, quanto mais velocidade, mais estabilidade.Segundo o princípio do ‘Momento Angular’, um corpo que gira tende a continuar girando. Uma roda parada cai facilmente, mas rodando, quando tentam derrubar, uma força contrária a coloca de volta no lugar. Portanto, é a velocidade da moto que a mantém de pé e rodando.

A adrenalina deste esporte é tal a ponto do coração do motociclista chegar a 190 batimentos por minuto, enquanto o dos atletas chega a 150 batimentos por minuto. Pilotar moto “emagrece”-como dizia meu amigo Thelmo, preparador de triatletas olímpicos e motociclista também (que Deus o tenha rodando pelas estradas do Paraíso). Será a emoção? Não há nada igual no mundo! O Freestyle é outra verdadeira aula de física. O mais interessante é que quando perguntamos aos pilotos o que eles sentem, todos dizem que “se não tiver medo você vai durar pouco”. – Palavra de profissional! Tem uma hora que, no Freestyle, piloto e máquina ficam totalmente sem peso algum e aí a manobra acontece. No giro para trás o piloto desafia seus instintos naturais, pois todos os saltos são pra frente. A maioria pensa que o giro é de 360º. Mas não é. É de apenas 270º. Muito para quem faz!

“A motocicleta é a própria expressão do individualismo, atrelado ao espírito de grupo. Caramba! Forças contrárias se unindo?”

As motos são mais econômicas que carros e utilitários, mas poluem mais por conta do óxido de nitrogênio. Um motor de combustão interna gera apenas 20% de eficiência. O restante se perde no esforço de gerar movimento. Na moto elétrica esta eficiência beira os 90%, porém sem o ronco característico. O que é chato… Convenhamos! Mas será que foi por isso que o Vital dos ‘Para-lamas’ comprou sua moto? A motocicleta é a própria expressão do individualismo, atrelado ao espírito de grupo. Caramba! Forças contrárias se unindo? Sim, um imã maluco que junta todas as diferenças para representar o espírito de desejar ‘cair na estrada’ onde as sensações, apesar de estar em grupo, apesar de totalmente íntimas, de comum apenas tem o desejo de compartilhá-las. O absoluto do absurdo do que pode ser a convivência com o contraditório!

Os principais motivos pelos quais Vital comprou sua moto quem é motociclista sabe, mas será que foi só por isso? Talvez tenha sido pelas crianças que, quando passamos, dão ‘adeus’ e ‘sorriem’ pra nós como se fôssemos ‘super-heróis errantes’. Eles, pequenos Quixotes, e nós os Sancho´s, alguns com o próprio ‘Pança’ sendo carregado na cintura, desfigurando a silhueta perfeita da natureza que nos contempla. Talvez por que as motos são as vedetes e nós meros coadjuvantes; ou seria por que o cérebro das crianças ainda não foi contaminado pelo medo e pelo preconceito? De qualquer forma carregamos semelhanças com belos pássaros e com cachorros. Sim! Cachorros! Cavaleiros medievais? Ancestrais de templários motorizados ou rebeldes sem causa após certa idade? O interessante é que a moto é um símbolo que representa uma parte de tudo de bom que existe na vida. Seja ela pelas leis da física que domamos, pelos pensamentos que carregamos e descarregamos; pelos amigos que fazemos quando nos afastamos do selim. A moto é mais que isso! Ela nos proporciona a máxima de poder dizer que “problema não faz curva’ e que basta ‘uma voltinha e a gente recarrega as baterias”.Como algumas crianças pequenas, que só dormiam quando o pai dava uma volta de carro no quarteirão, as motos têm uma parte do ópio misturado à adrenalina que só nós conseguimos dosar e obviamente curtir o ‘barato’ de cara-limpa. Sem falar que o sono do guerreiro depois de uma viagem de moto é algo indescritivelmente gostoso.

Mesmo suado e sujo da poeira da estrada, e por que não dizer da vida, ninguém reclama de cansaço. Parece um game-quanto mais difícil, melhor! Nada é mais prazeroso e desconfortável do que uma motocicleta, mas também nada é mais mágico e apavorante que ser o cara que representa tudo isso em cima de uma moto. De dia um executivo. Nos fins de semana um cara que gosta de encontros estranhos de gente esquisita que se cumprimentam na rua e nem sequer sabemos quem são, pois passam em velocidade e estão debaixo de um capacete.

Ser motociclista é ser tudo isso! Mas antes de qualquer coisa é saber que você foi contaminado quando nasceu e o vírus despertou quando você viu, ouviu, falou e chegou perto de uma moto. Ser motociclista é um sonho de criança que conseguimos realizar mais tarde.O que mais me deixou de pelos em pé foi o pequeno Miguel. É esta história, que poderia ser escrita de várias formas e sob vários aspectos, que eu queria contar a vocês e que aconteceu pouco depois que deixei Fortaleza, há mais ou menos uns dois anos. Chama-se o – Menino e a Moto! – Mas vamos à história que eu, penhoradamente, pedi licença a todos para contar:

Onde eu morava era um condomínio fechado onde não havia muros e uma parte das nossas vidas privadas era pública. Neste lugar onde as mães gritam pelos filhos que correm soltos chamando-os para o almoço, sem medo e seguros, eu conheci um garoto chamado Miguel, filho de um casal de vizinhos portugueses. A minha amizade com seus pais era do tipo passa cigarro, vem açúcar, passa café, vem cerveja, passa chave de fenda, vem papel, vem vinho, vão castanhas… essas coisas que não existem mais. No meio dessas idas e vindas estava o pequeno Miguel. Diariamente quanto eu chegava do trabalho, por volta das 19 horas, o pequeno Miguel, de quatro anos à época, estava lá. Parado na borda da baixa cerca de madeira, pintada em branco, que ficava, mais ou menos, na altura de sua cintura.

Eu estacionava a Shadow (a Poposuda) na frente da minha janela, exatamente na varanda da casa. De braços cruzados, brilho de criança nos olhos e uma feição séria ele pedia para ‘baixar a luz dos faróis’. Eu atendia, cumprimentava-o apenas balançando a cabeça, mas ele nada respondia. Eu guardava a moto e ele observava tudo, sempre de braços cruzados sem mover um músculo do semblante. Depois eu desligava a moto, tirava o capacete, a bala-clava, as luvas, abria a jaqueta e o cumprimentava. Neste momento ele falava comigo. Ou balançava a cabeça em sinal de cumprimento ou soltava um grito de guerra que ensinei a ele – Seria mais ou menos como ‘UH, RHAPP’! E ‘batíamos’ uma espécie de continência.

Eu entrava e ia cuidar das coisas de casa. Ele ia fazer as coisas dele. Certa vez me preocupei com o risco dele se queimar na descarga da moto, mas nunca aconteceu e tive a curiosidade de saber. Sua mãe disse que ele, depois que eu entrava, pegava o carrinho dele movido a bateria – que ele mesmo pilotava pelo condomínio – e fazia o mesmo caminho da moto. Parava em frente a ela, cruzava os braços e continuava olhando por um longo tempo. Depois saia. Ninguém sabia o que ele pensava e nunca descobrimos. Sua mãe comprou uma réplica de moto igual a minha e deu pra ele. Este é o único brinquedo que ele não brinca e nem deixa brincarem. Fica guardada ao lado da sua cama, na caixa, onde ele dorme e acorda olhando pra ela, segundo seus pais, que também são motociclistas, mas atualmente sem moto.

Eram assim todos os dias. Eu saía cedo e ele corria para ver a moto sair. Às vezes apressado por ter demorado a estar pronto, o via apenas pelo retrovisor da moto. Eu saia de casa já todo equipado e o cumprimentava com um -”Salve motociclista!” Ele fazia um sorriso de canto de boca, balançava a cabeça e cruzava os braços. Apenas olhava. Na volta era a mesma coisa. E assim eram todos os dias até que um dia eu enviei a Poposuda na cegonha pra Resende (RJ) e cheguei a pé (é assim que os motociclistas se referem quando alguém chega de carro e não de moto). Ele parou, olhou, pensou e perguntou: “Cadê a moto, Luis?”. Eu não sabia se ele entenderia a logística da minha mudança então decidi dizer que ela havia ido “ao Doutor dela para tratar um dodói” e depois ela iria para a – minha nova casa. Eu não sei se ele entendeu, mas não falou mais.

Vinte dias depois eu falei com sua mãe para saber se tinham parentes na Ilha da Madeira (por conta da inundação que ocorreu à época) e perguntei pelo ‘motociclista Miguel’. Disse a ela que sempre que entrava na garagem lembrava dele à porta esperando a ‘Poposuda’ chegar. Para minha surpresa e emoção ela disse que vez ou outra ele para no mesmo lugar e fica olhando para o vazio, de braços cruzados, com semblante fechado. “Não diz nada, só olha. Às vezes faz ‘vrrrruuuummm’ e diz ‘UH, RHAPP’! Bate a continência e volta a brincar”.

Marejei os olhos e se me permitem a inconfidência – chorei, de inchar as pálpebras e avermelhar os olhos! Lembrei que eu era assim também, pois meu pai é motociclista também! Não sei se verei o pequeno Miguel novamente, mas ambos criamos uma amizade onde a moto foi o principal elo. O menino e a moto; a moto e um ´tiozinho´, mas que amam a mesma coisa. “Vrrrruuuuuummmmmm! UH, RHAPP”! A gente se vê na estrada, motociclista, Miguel!

Caro leitor: Viva o presente, relaxe um pouco e seja feliz! Não viemos a este mundo apenas a expiar nossas faltas e honrar compromissos. Faça o que gosta e descanse a sua mente sempre que puder e deixe que a tomografia das emoções registre tudo isso, pois nada mais nesse mundo vale mais a pena do que ser feliz e deixar-se, positivamente, contaminar-se pelas emoções. Abaixo a foto do pequeno Miguel na famigerada, absoluta e necessária – Poposuda.

FELIZ DIA DO MOTOCICLISTA!

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Redação Geral

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