EDITORIAL – Sobre mulheres, flores e motos

EDITORIAL – Sobre mulheres, flores e motos
Dot Robinson e sua arley-Davidson EL Knucklehead 1939
Dot Robinson e sua arley-Davidson EL Knucklehead 1939

Nesta semana, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o “Você e sua Moto” faz a merecida homenagem às motociclistas e garupeiras que são realmente apaixonadas por suas motocicletas! Digo isso porque a moto que eu piloto não é minha, mas da minha esposa! Afinal, se ela não tivesse aprovado, provavelmente eu não teria a moto que tenho hoje. Na verdade eu não teria era moto alguma!

Em pleno século XXI, passados mais de 100 anos da invenção da primeira motocicleta, eu ainda fico impressionado (melhor dizendo: decepcionado) com o quanto ainda há de homens (e até mesmo mulheres) que possuem um certo preconceito em relação a mulheres pilotando motos. Não sei se é cultural em relação ao Brasil (já que nunca morei fora), mas pelas redes sociais eu tenho muitos contatos de mulheres motociclistas nos EUA e em países na Europa que pilotam motos mais potentes do que grande parte dos pilotos homens que conheço já pelo menos montou na vida! Inclusive elas entendem mais de mecânica até do que os “machões” entendem sobre como funcionam seus carros. Eu percebo que nestes países, quando a filhinha nasce, os pais já compram a mini-moto sonhando no dia em que ela conseguirá pilotar! E se Deus um dia me der a alegria de ter uma filha, pode ter certeza de que o quarto dela será todo decorado com flores e motos!

Elas abusam na beleza e no talento

Quando alguém comenta comigo frases absurdas sobre este tema, eu me pergunto: “mulheres sempre dirigiram carros e, apesar das piadinhas, sempre foi considerado normal. Por que com motocicletas, que são veículos muito mais divertidos e até estilosos, isso é visto por alguns com tanto espanto? Acho que é pelo fato de que quem se diverte às vezes ofende algumas pessoas pelo simples fato de ser livre e feliz! Ou talvez pelo fato de muitos “machões” serem frouxos a ponto de não comprar uma moto por ter medo, e se sentem ofendidíssimos por uma “mulherzinha” ser mais corajosa! Como não têm argumentos pra procurar uma razão pra criticá-las (porque afinal não há nenhuma), resolvem fazer julgamentos sem nexo, tirar sarro, xingar… esse tipo de coisa de quem não tem nada na cabeça (até tem algo, mas não posso citar o quê por respeito às leitoras…).

Então, pensando melhor, este texto, além de ser dedicado às mulheres, é dedicado também àquelas figuras ignorantes que nunca andaram nem na garupa de uma moto e acham que podem dizer que mulher não nasceu pra pilotar! Eu não teria tempo nem espaço aqui pra escrever sobre todas que conheço, mas vou lhes apresentar algumas destas damas que não trocam o guidão de suas motos por nada (ou por ninguém) neste mundo!

Dorothy Robinson – o MC mais antigo da América

Co-fundadora do motoclube norte-americano Motor Maids (formado só por mulheres), a história de Dot Robinson se confunde com a história do motociclismo mundial. Quando sua mãe Olive estava em trabalho de parto, seu pai Jim Goulding (fundador dos famosos sidecars Goulding) levou a esposa e filha prestes a nascer ao hospital em um sidecar construído por ele mesmo e preso a uma Harley-Davidson 1911.

Casada com Earl Robinson, ela começou a competir junto ao marido em campeonatos de corridas com sidecar (ela pilotando e Earl no sidecar) pois, além de se divertir, divulgavam a empresa da família. Como quem faz o que gosta sempre se dá bem, Dot começou a se destacar com suas roupas cor de rosa deixando os marmanjos de preto comendo poeira. Em 1935, eles estabeleceram o recorde transcontinental de sidecar, viajando de Nova York a Los Angeles com um tempo de 89 horas e 58 minutos. Em 1940 Dot e o marido venceram pela primeira vez o Enduro Jack Pine de Sidecar de 500 milhas, se tornando a primeira mulher da história a vencer uma competição oficial da AMA (American Motorcyclist Assossiation) ao comando de uma moto. Vale ressaltar: sempre competindo contra homens! O casal voltou a vencer novamente o campeonato em 1949.

Não bastando competir, ela também é co-fundadora do motoclube Motor Maids, formado apenas por mulheres. O grupo começou em 1940 com Dot  sendo a presidente, a outra fundadora Linda Dugeau como secretária e mais 49 damas e suas respectivas motos. Em 1972 o casal se aposentou e foram fazer o que mais gostavam: viajar todo os EUA, cada um com sua moto. Eles fizeram isso juntos até 1996, ano em que Earl faleceu. Agora sem o marido e parceiro de viagens, Dot passou a pilotar pelas estradas noite-americanas  sozinha até os 86 anos (1998), quando passou a sofrer problemas em um dos joelhos e teve que parar de pilotar. Afastada do que mais amava fazer, a Sra. Robinson, eternizada como “Primeira Dama das Motocicletas”, faleceu um ano depois, ficando eternizada na história por ser incluída no Hall da Fama da AMA (em 1998) e no Sturgis Motorcycles Hall of Fame em 1991!

Hoje o Motor Maids é o motoclube considerado oficialmente pela AMA como um dos mais antigos do mundo (incluindo aí motoclubes formados por homens e mistos) ainda em atividade, contando com mais de 1.200 membros, todas  mulheres!

Sabrina Paiuta – Desde os 7 tocando o terror nas pistas

Sabrina Paiuta em 2014
Sabrina Paiuta em 2014

E está muito enganado quem acha que com o tempo as mulheres se afastaram das pistas! Com todas as dificuldades de patrocínios, aquisição de equipamentos e divulgação dos esportes a motor no Brasil, temos uma verdadeira campeã que, apesar de ter começado a correr aos 7 anos, ainda está “começando” na carreira! A “Penélope” Tupiniquim Sabrina Paiuta começou a correr pela influência do pai, o treinador de pilotos de MotoCross Eduardo Paiuta, que a deu uma moto de 49cc e desde então fez a jovem se apaixonar pelas duas rodas! A partir daí Sabrina começou a competir e evoluir no esporte até que em 2008, em um acidente, ela fraturou o braço e deu uma pausa. Mas a parada se deu por pouco tempo e já no ano seguinte ela foi convidada pra uma corrida na categoria supermoto e nos treinos já ficou entre os três primeiros. Ela terminou o ano como vice-campeã da categoria 230cc (SM3) e em 2010 foi campeã paulista na mesma categoria! Em 2011 ela achou pouco participar apenas com uma moto e se inscreveu nas categorias 250cc e 450cc, sendo na primeira pelo campeonato brasileiro e na segunda pelo paulista. E, como não poderia ser diferente, subiu ao pódio sagrando-se vice-campeã nas duas competições!

Em 2012 sua carreira mudou da lama para o asfalto: ela foi convidada para participar da Copa Ninja Light (250cc) e agora não foi vice, mas sim campeã, deixando todos os marmanjos para trás e recebendo o premio Moto de Ouro 2012 na categoria feminina. Em 2013 ela passou pra categoria 600cc, ainda pela Kawasaki (recebendo no fim do ano novamente o Prêmio Moto de Ouro categoria feminina)!

Já em 2014 a disputa ficou mais séria: ela estréia na categoria máxima do SuperBike Series! E adivinhem: mais um título! Correndo pela equipe Mobil Kawasaki Racing (time oficial da fabricante) ela foi  campeã invicta na categoria Superbike Pro Estreante pilotando uma Ninja ZX-10R 1000cc!

Mari Borboleta – O rosa e o azul que colorem as estradas

Mari Borboleta e sua Kasinski Mirage 250cc
Mari Borboleta e sua Kasinski Mirage 250cc

Aqui no Ceará, a motociclista Mari Borboleta, fundadora e presidente do Borboletas do Asfalto Motoclube, é figura carimbada nos encontros de motos do Estado! Sempre presente nos passeios e eventos, Mari resolveu fundar seu próprio grupo em 2010, após comprar sua Kasinski Mirage 250cc. “Vi que só existiam motoclubes masculinos e sempre todos de preto. Então coloquei as cores rosa e azul para dar um colorido! Começamos com nove membros, mas hoje somos apenas quatro”, explica a motociclista, que diz ainda ser muito bem acolhida e respeitada pelos membros de todos os outros motoclubes da cidade. E pra quem pensa que a paixão dela pelas motos é pequena, em 2012, voltando de um passeio na cidade de Pacoti (CE), Mari derrapou em um acúmulo de areia na estrada, descendo a Serra de Baturité. Ela foi socorrida por membros de outros motoclubles que participavam da viagem, que a levaram ao hospital e socorreram também sua moto.

Diferente dos “mui machos” que levam uma quedinha e logo em seguida vendem suas motos, Mari Borboleta tratou de se recuperar logo e mostrar que não é apenas um rostinho bonito dentro de um capacete: “um mês depois, assim que eu e minha moto nos recuperamos, retornei a Pacoti passando pela mesma curva onde cai, indo pro aniversário de um motoclube de lá”, disse a presidente do Borboleta do Asfalto, que mesmo tendo poucos membros, é mais presente nos eventos de motociclistas do que muitos motoclubles bem maiores!

Dot Robinson e Earl empurrando o side car
Dot Robinson e Earl empurrando o side car

Apesar de ter “tudo contra” em nosso País, as mulheres parecem não ligar pro preconceito e hoje já são responsáveis por 25% das vendas de motos no Brasil! Basta dar uma olhada ao redor quando estiver parado no sinal e você comprovará isso no dia-a-dia. Garotas, não se ofendam caso alguém fale qualquer coisa contra você e sua moto. Afinal, nós homens motociclistas também somos chamados de loucos e de muitas outras coisas que o “horário” não me permite dizer! Lugar de mulher é sim atrás de um tanque… de uma motocicleta!

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Redação Geral

Você e sua moto! Nós amamos motos!

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