Denatran quer exigir simulador para formação de motociclistas em 2015

Denatran quer exigir simulador para formação de motociclistas em 2015

Rafael MiottoDo G1, em São Paulo

Simulador de motos da Honda (Foto: Flavio Moraes/G1)Imagem mostra simulador feito por uma fabricante
de motos; universidade desenvolve modelo para
ser usada em autoescolas (Foto: Flavio Moraes/G1)

Em paralelo ao crescimento do número de mortes em acidentes com motos, como aponta o Ministério da Saúde, uma série de projetos de lei tramita no Senado Federal e na Câmara dos Deputados em busca de soluções para os índices negativos. Além das possíveis mudanças, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) afirmou aoG1 que pretende exigir simuladores nas aulas de autoescolas para formação de motociclistas a partir de 2015.

O Denatran aguarda o protótipo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para esse tipo de veículo. A UFSC é responsável pelo simulador que será obrigatório a partir do mês que vem para quem pretende tirar habilitação para carros (categoria B). A ideia é que a tela replique situações reais do trânsito para o condutor aprender a lidar com elas.

Especialistas ouvidos pelo G1 apontam as falhas no processo para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) como um dos grandes causadores de acidentes com motos.

“É necessário mudar o aprendizado e o exame. O que se vê hoje é um condicionamento do motociclista para passar no teste”, explica Magnelson Carlos de Souza, presidente da Federação Nacional das Autoescolas (Feneauto) e da Câmara Temática de Formação e Habilitação de Condutores do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

Entre os problemas apontados por ele estão o fato de o motociclista fazer as aulas apenas em locais fechados, sem ter experiência no trânsito. “O simulador trará situações de risco que o motociclista enfrentará nas ruas”, diz.

“Para o candidato a obter sua habilitação existe um ‘adestramento’ para cumprir exigências mínimas do exame”, opina o instrutor André Garcia, que ministra cursos particulares de direção defensiva para motos. Segundo Garcia, não aprender a trocar de marchas nem frear corretamente são pontos cruciais da má formação de novos condutores.

Nossa proposta é que se mude radicalmente o exame, aprofundando os ensinamentos básicos como frenagem, trocas de marchas e postura”
Magnelson de Souza, da comissão
do Denatran que estuda mudanças
na formação de condutores

O Denatran diz que não tem autonomia para criar novas leis, o que fica a cargo de Senado e Câmara, mas trabalha com suas Câmaras Temáticas, discutindo possíveis alterações no sistema de educação para a CNH, além da introdução dos simuladores.

“Nossa proposta é que se mude radicalmente o exame para futuros motociclistas, aprofundando os ensinamentos básicos como frenagem, trocas de marchas e postura”, resume Magnelson de Souza.

Projetos de lei
Na Câmara e Senado há projetos de lei que vão da obrigatoriedade de airbag para motociclistas e de freios ABS para motos – os equipamento estarão em todos carros novos até 2014 – a restrições à circulação. Todas as propostas ainda estão em fase preliminar de análise.

Existem ainda projetos que preveem o uso de antenas aparadoras de linha de pipa, agora obrigatórias para motoboys e mototaxistas, e outro que envolve mudanças estruturais nas estradas, como a instalação de guard-rails que protejam os motociclistas, já que os normais podem aumentar os danos com o chamado “efeito fatiador”.

O deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP) é autor de uma proposta que visa proibir a circulação de motos no corredor, liberando apenas quando o trânsito estiver parado e limitando a velocidade a 20 km/h. “A gravidade e fatalidade desses acidentes se dão de forma diretamente proporcional à velocidade”, explica Feldman.

De acordo com o Denatran, um artigo do Código de Trânsito que previa a proibição de motos no corredor foi vetado em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Especialistas questionam a eficácia dessa medida. “Pela dinâmica da motocicleta o corredor é necessário. Ficar atrás dos carros ou no meio da faixa tira completamente o campo de visão do motociclista. O grande problema do corredor é, como causa primária, a mudança de faixa sem sinalização do veículo maior, e, como causa secundária ou agravante, o excesso de velocidade”, afirma Garcia, que, além de instrutor, é advogado e especialista em gestão do trânsito.

Airbag para motociclista (Foto: Divulgação)Airbag para motociclista (Foto: Divulgação)

Airbag e ABS
No Senado tramita um projeto para tornar obrigatório o uso de airbags para  motociclistas. O produto ainda é pouco difundido no Brasil e o preço varia de R$ 800 a R$ 2.500.

“Ainda é caro sim, embora já tenhamos visto produtos similares ao do principal fabricante que lançou no Brasil com preços mais baixos. Ainda sim tem custo elevado. Por isso a necessidade de algum incentivo do governo para que a produção seja aumentada e que investidores brasileiros e estrangeiros possam ter interesse em produzir em uma escala maior, barateando o custo”, afirma o senador Humberto Costa (PT-PE), autor da ideia.

Atualmente, para motociclistas em geral,  a lei brasileira só exige o capacete. Ela fala também em vestimenta adequada, mas é preciso que esse item sejam regulamentado pelo Denatran, o que não ocorreu até agora.

Na Europa e no Japão já existe grande demanda pelo airbag para motociclistas, apesar de não ser um item obrigatório. Seguindo outro caminho, o da prevenção das quedas, a partir de 2016 todas as motos vendidas na Europa, com cilindradas superiores a 125 cm³, serão obrigadas a ter freios ABS de série. No Brasil, um projeto de lei do senador Cyro Miranda (PSDB-GO) pretende que esse equipamento seja exigido para todos os veículos automotores – em 2014, será obrigatório para carros novos.

A Bosch, empresa que produz o ABS para motos, afirma que 47% dos acidentes são causados por frenagem equivocada ou hesitante, utilizando como base o banco de dados da Alemanha, conhecido pela sigla GIDAS. A função do sistema ABS (Antilock Brake System) é impedir que as rodas travem durante uma freada forte, fazendo o veículo derrapar.

Queda nas mortes em SP
De 2011 para 2012, o número de mortes de motociclistas na cidade de São Paulo caiu 14,5%, passando de 512 óbitos para 438, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP). A entidade credita a queda à intensificação do trabalho de fiscalização e as ações educativas – o órgão oferece curso de pilotagem defensiva para motociclistas.

Faixa de retenção para motos e bicicletas em São Paulo (Foto: Reprodução/Jornal Nacional)Faixa de retenção para motos e bicicletas em São
Paulo (Foto: Reprodução/Jornal Nacional)

Desde o início de maio, a CET está testando na cidade bolsões de retenção para motos, posicionados entre as faixas de pedestres e os veículos parados nos semáforos. Segundo o órgão, esta faixa exclusiva tem o objetivo de proporcionar mais segurança para motociclistas e ciclistas, evitando conflito com veículos maiores no momento em que o sinal abre.

A CET informa que esta iniciativa foi baseada em projetos que tiveram êxitos em Barcelona e Madri, ambas na Espanha. Segundo a entidade, estas faixas foram testadas em três cruzamentos em 2009 e, posteriormente, expandidas para outros locais, atingindo atualmente 60 (sessenta) cruzamentos sinalizados. A autoridade de trânsito de Barcelona, onde as motos são 29% da frota de veículos, avalia que a área de espera exclusiva para motos diminuiu em 90% o risco de acidentes com motos nos cruzamentos daquela metrópole.

Motos no exterior
Em países europeus como França, Itália e Espanha a habilitação B (para carros) possibilita ao usuário também utilizar veículos de duas rodas motorizados. “Lá a categoria ‘B’ pode utilizar motoneta (scooter) até 33 cv”, explica André Garcia. Segundo ele, a finalidade é educar, já que o candidato, mesmo que jamais utilize um scooter, compreenderá a dinâmica do veículo de duas rodas e o respeitará na via pública e a mobilidade.

Além disso, o sistema europeu de habilitação é divido em degraus relacionados à idade, à experiência do motociclista e ao tipo de moto. É possível obter a carteira mais básica a partir dos 17 anos. A mais ampla, com 24 anos, ou aos 21, tendo dois anos de experiência na intermediária.

“Acredito que a formação prática para tirar carteira é mais completa na Europa. Vejo mais motociclistas tendo noção dos limites de suas motos, mesmo com pouca experiência, enquanto no Brasil vejo muito mais o motociclista aprendendo por si mesmo e cometendo mais imprudências”, explica o motociclista franco-brasileiro Eric Breuillac, que viveu por anos em Paris e agora mora em Paraty (RJ), onde possui uma oficina para motocicletas.

Nos EUA, um estudo recente encomendado por seguradoras apontou a alta no número de pedidos de indenização em Michigan depois que o estado passou a exigir o uso de capacete apenas de motociclistas com menos de 21 anos -por 40 anos, essa obrigatoriedade era para todos os usuários.

O abrandamento dessa lei tem sido uma tendência naquele país, onde cada estado define suas regras de trânsito. Atualmente, 19 deles e o Distrito de Columbia ainda exigem que todos os motociclistas usem o equipamento e 28 só obrigam uma parte deles, geralmente os mais novos. Três estados não têm lei sobre o assunto.

Redação Geral

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