A tecnologia e a guerra contra a fome.

O problema fica pior a cada dia e hoje se pudéssemos alimentar toda a população do mundo três vezes ao dia necessitaríamos de um planeta e meio, em terras agricultáveis, para produzir tanta comida. Mas nós só temos um planeta que ainda não colhe tudo que planta e nem planta tudo que colhe. Enfim, há fome e isso é um fato; e tudo isso ainda é piorado por conta de subsídios, alta do petróleo, clima (e ai vem o efeito estufa) e a especulação. Resumindo: os alimentos estão mais caros e, no mundo todo, o tema deixa autoridades em alerta e esquentam os debates em torno das possíveis causas para a escassez de comida.De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas, a falta de alimentos pode matar de fome 100 milhões de pessoas. O litro de água, proporcionalmente ao da gasolina, custa bem mais caro.

Outro debate cai em cima da dimensão da responsabilidade dos países produtores de biocombustíveis, cujas matérias-primas (cana, milho e outras) disputam espaço com culturas destinadas à produção de comida. Mas mesmo que sim, essa área representa menos de 9% das áreas cultivadas no Brasil. Isso representa muito pouco em termos de impacto, mas no caso dos Estados Unidos virou um problema.

Mas tudo indica que será a tecnologia que ajudará a mudar esse cenário cinza. Antes é necessário que compreendamos uma parte do cenário atual. Vamos a ele.

A população mundial está comendo mais.

Nas economias que estão crescendo, como a da China, que tem 1,3 bilhão de bocas sendo alimentadas 3 vezes ao dia vale a lei da oferta e da procura: os produtos se valorizam no mercado e ficam mais caros. Para agravar um pouco mais o preço do barril de petróleo vendido em Nova York e em Londres tem, sim, relação direta com a escalada do valor dos alimentos, já que a agricultura demanda grandes quantidades do óleo, seja no maquinário, tratores, uso de fertilizantes ou transporte, até esse produto chegar ao consumidor.

A queda do dólar afastou os investidores que ganhavam dinheiro investindo na moeda norte-americana. Assim decidiram investir outras commodities, como os produtos agrícolas. Muitos fundos têm usado as bolsas de mercadorias para especular com a antecipação da compra de safras futuras em busca de melhor rentabilidade, o que também contribui para valorizar o preço de commodities como o trigo e o arroz.

O clima ruim, o Efeito Estufa…

O clima é outro fator que reduziu a quantidade de alimentos produzida no mundo, segundo relatório da ONU. Segundo as previsões da FAO, as reservas mundiais de cereais caíram para o seu nível mais baixo em 25 anos com 405 milhões de toneladas em 2007, 5 % (21 milhões de toneladas) abaixo do nível já reduzido do ano anterior.

A culpa seria dos Biocombustíveis?

Com a redução da oferta de milho subiu o preço dos derivados, o que começou um processo em cadeia; aumentou o preço da ração dos animais e, conseqüentemente, das carnes. Aqui no Brasil (onde o etanol é feito a partir da cana-de-açúcar) a realidade é bem diferente; nos últimos 30 anos, aumentamos a produção não só de etanol, mas também de alimentos. Então essa de por a culpa no Brasil não cola.

As guerras civis motivadas pela falta de comida.

O diretor da Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), Jacques Diouf, alertou sobre guerras civis em alguns países devido à falta de alimentos. As manifestações contra o aumento de produtos como arroz e milho atingiram o governo do Haiti. Agitações sociais relacionadas à inflação nos preços dos alimentos já eclodiram nos Camarões, Costa do Marfim, Mauritânia, Etiópia, Madagáscar, Filipinas e Indonésia. Diouf lamentou as políticas competitivas de diferentes organizações internacionais, algumas vezes na própria ONU, e disse que isso geralmente faz com que a implementação de programas da FAO contrariem as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Algumas instituições globais estabeleceram um fundo de segurança alimentar, como o que a comunidade internacional criou para combater a Aids a partir de 1980. Mas isso ainda está no começo.

O Racionamento de Arroz

Dois grandes varejistas americanos anunciaram já ter começado a racionar a venda de arroz aos consumidores, em um contexto de alta dos preços mundiais e de forte pressão sobre a demanda.

O Sam’s Club, o mais importante varejista americano no setor de alimentos (filial do gigante Wal-Mart), divulgou uma nota dia 23 de abril para anunciar sua medida “de precaução”, estabelecendo um limite para as vendas de arroz importado, “em razão das tendências atuais da oferta e da demanda”. Os clientes desses hipermercados terão de limitar suas compras a quatro sacos de 9 kg por pessoa.A decisão do Sam’s Club, que tem cerca de 600 lojas espalhadas pelo país, foi tomada depois de medida similar de seu concorrente Costco, que também restringiu a venda desse cereal.

Tem arroz suficiente?

As redes garantem ter arroz suficiente, mas alegam as pressões na demanda, motivo pelo qual querem garantir o abastecimento para todos. A medida parece destinada a evitar que alguns consumidores, mais alarmados com a alta dos preços, façam estoques em grande quantidade.

A crise do arroz parece ser a primeira de tantas que deverão vir por ai.

Grandes exportadores, como Tailândia (1º no mundo), Vietnã, Índia, Indonésia, além de Egito, também adotaram medidas recentemente, que incluem a suspensão das exportações. Outros países, onde o arroz é parte bastante significativa da dieta, estão tentando relançar sua cultura para atingir a auto-suficiência.

Para alcançar altas taxas de produtividades é necessária alta tecnologia e o Brasil vai muito bem na foto.

O Brasil se destaca nesse cenário por possuir uma agricultura em acelerada fase de modernização e profissionalismo, batendo seguidos recordes de produção. Ao tempo que conseguem isso, essa mesma tecnologia também consegue produzir sem destruir o meio-ambiente.

As fazendas hi-tech no Brasil.

A agricultura de precisão é a nova cultura que começa a se espalhar pelos campos do País e junto com ela vem a informática e todos os equipamentos de alta tecnologia como colhedeiras com sensores e sistemas de irrigação computadorizados, entram em ação para que os recursos naturais, humanos e financeiros sejam aproveitados ao máximo, de forma responsável.

Isso inclui modificar a forma como o produtor trabalha a propriedade. Antes, o agricultor, em geral, planejava o plantio e a colheita de forma maciça, como se apenas a quantidade de terra cultivada importasse para o resultado final. Agora, as particularidades de cada metro quadrado do terreno são cuidadosamente estudadas, com o objetivo de alcançar o máximo de produtividade.

É aqui que a tecnologia entra em ação. Para que uma propriedade seja mapeada, colhedeiras equipadas com sensores eletrônicos e localizadores GPS computam o quanto foi recolhido em cada ponto específico da fazenda. Esses dados, depois, são transferidos para os computadores dos administradores, que analisam os resultados.

Irrigação Digital

Com ajuda dos micros, ocorre uma investigação para descobrir as áreas que produziram bem e as que não foram satisfatórias. Mas a agricultura de precisão que utiliza o hi-tech tem mais novidades. Sistemas de irrigação podem ser controlados a distância, por computador. O sistema, que é conectado à sede da fazenda por meio de fibra óptica, permite que se economize água. A quantidade de água necessária para a irrigação de determinada cultura é obtida de duas fontes: internet e em estação meteorológica. Na web pegam as informações sobre previsões meteorológicas, para descobrir se vai haver chuva. Na estação meteorológica, que conta com um tanque com água e sensores, analisa-se a temperatura, a umidade, a quantidade de evaporação de água e a velocidade do vento. Com esses dados à disposição, é só abrir a “torneira digital” para iniciar a irrigação.

Mas, além de fazer jorrar água o sistema também aplica fertilizantes na lavoura. E, para determinar a quantidade do produto necessária, mais uma vez recorre-se à tecnologia. Um aparelho chamado condutímetro mede o nível de condutividade elétrica do solo, o que serve para determinar a quantidade de nutrientes necessários.

Supervisores digitais avaliam funcionários.

Com computadores de mão, fiscais do canavial controlam o horário de trabalho dos funcionários e a produtividade deles. Os palms vêm com um leitor a laser, que faz a leitura dos crachás dos colhedores. Ainda por meio do aparelho o fiscal também faz o controle da quantidade de cana que cada um dos colhedores cortou. Até os motoristas dos caminhões que transportam a colheita são monitorados através de sistemas de restreamento instalados nos veículos que avisam ao administrador da propriedade onde o caminhoneiro está.

Boiadeiro e vaqueiro digitais?

Em pleno cerrado brasileiro, no meio do nada navegar na internet já é coisa mais que normal. Sem telefone fixo ou cabeamento de TV paga, a conexão digital com o mundo é garantida pelo acesso à rede mundial de computadores via satélite.

A internet é fundamental hoje também na pecuária. Cotação do gado na bolsa paradescobrir qual é a melhor hora para comprar ou vender animais. Até cavalo já está sendo leiloado na rede.

Redes Wi-Fi permitem conexão com a internet dentro de um raio de até 200 metros da sede. Quando o gado é pesado, vacinado ou tratado, o veterinário, com um computador portátil a tiracolo, registra na intranet todas as informações relevantes.

No local onde os animais são tratados, o veterinário conta uma balança digital conectada ao micro. O boi é pesado e o peso é arquivado diretamente no PC, sem a necessidade de anotações à mão e sem erros.O pecuarista hoje pode monitorar à distância a fazenda através de câmeras de vigilância pela internet.

Aqui o olho digital também engorda o boi. Mas os recursos tecnológicos vão além da intranet, internet e rede Wi-Fi. Os GPS, celulares e câmera fotográfica digital também fazem parte do menu tecnológico das novas propriedades hi-tech. O GPS pode informar ao veterinário pelo celular o local exato onde se encontra um boi ferido ou doente, agilizando o socorro e evitando a morte do animal.

Já os peões têm sempre um celular à mão para pedir instruções ao administrador ou veterinário. A câmera fotográfica digital registra imediatamente problemas detectados durante as vistorias realizadas na fazenda.

A guerra da comida parece dar sinais de que veio mesmo para ficar. O Brasil, já ouvi dizerem, é o ‘celeiro do mundo’ e além da nossa Amazônia o planeta todo volta os seus olhos para nós por conta da nossa capacidade de produzir muito atrelado a tecnologia.

A preocupação que fica no ar é se estes olhares se voltam para nós ou contra nós. Muito se tem falado, a boca miúda, que a próxima Guerra Mundial poderá ser por comida e água. Infelizmente uma parte das mentes brilhantes desse planeta dedica-se a fabricar o medo através de armas, enquanto outra parte tenta produzir mais comida e proteger a água usando a tecnologia.

Uma coisa é certa: numa guerra por comida e água, bombas atômicas e as suas conseqüentes contaminações pouco adiantam e para quase nada servem.

O mundo não quer apenas paz. Precisa de comida também.

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Redação Geral

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